Gestão Familiar

Muito comum no mundo dos negócios, as empresas familiares estão presentes em vários setores e vão desde multinacionais à pequenos negócios. Inclusive, estas empresas são a base do empreendedorismo ao redor do mundo e inúmeros negócios de sucesso tem em comum a presença da família em seu cotidiano. De acordo com o Sebrae, em 2016 elas representavam mais de 90% dos negócios no Brasil. Neste modelo, a empresa nasce e passa de geração para geração sob domínio de uma mesma família, podendo ser conduzida pelos membros da família com ou sem ajuda de administradores profissionais. O problema é que quando se envolve trabalho e família, um desafio se instaura: conciliar emoção e razão, relação pessoal e relação profissional. Para que o desejo do fundador seja cumprido e a empresa se perpetue nas mãos dos herdeiros, são necessários vários cuidados particulares. Entenda:

Preparação dos sucessores

No olhar de um familiar jovem, ter que assumir uma empresa e enxergar isso de forma profissional pode ser um desafio.  Provar que é capaz para os pais ou tios é ainda mais desafiador e estressante. Por isso, uma das prioridades das empresas familiares deve ser a profissionalização dos membros da família, para torná-los capazes de conduzir ou gerenciar o negócio. Assim, vale investir em educação continuada e até prever que esses jovens atuem em outra organização para ganhar experiência e conquistar méritos de forma independente. O ideal é que essa preparação ocorra antes que a sua participação no negócio seja essencial, ou seja, em um momento no qual a atual geração ainda tenha “muita lenha para queimar”. Um processo sucessório pode resultar em novas ideias para fazer melhor algo que já era bem executado. Mas não custa repetir: só se espera esse tipo de postura de quem se capacitou para estar ali. E só irá realmente se capacitar o familiar que tem verdadeiro interesse pela empresa. A insistência com familiares que não se identificam tende a levar o negócio ao fracasso no curto prazo. Traduzindo em números essa realidade, mais de 70% das empresas não resistem à segunda geração.

 

Planejamento e Gestão

Obviamente esses dois itens essenciais para qualquer modelo de empresa não serão dispensados nos casos de empresas familiares. Muito pelo contrário. Além do bom andamento gerencial, possivelmente antecipado pelo plano de negócio, recomenda-se que seja colocada em prática a correta definição da atuação de cada funcionário, inclusive os pertencentes à família que gerencia o negócio. A elaboração e aplicação de um organograma vai fazer a diferença nestes empreendimentos. Esta definição é complementada por uma precisa e imparcial avaliação de desempenho, que vai mensurar periodicamente as entregas individuais, monitorando e corrigindo posturas abaixo do esperado para o bom andamento da empresa. Considerando a dificuldade em expressar insatisfação com um membro da família, criar padrões de performances, regras e manual de conduta pode ser uma boa saída para que todos sejam “enquadrados” e gerem resultados.  Fica claro, a partir daí, que o empreendimento deve estar acima de questões familiares, e quem não se encaixar no perfil não deve fazer parte do negócio.

Plano de Sucessão

Quatro são os cenários mais comuns para continuidade da família a frente do empreendimento:

✓ O Sucessor assume dando continuidade a estratégia do negócio: é mantida a estrutura e modelo de gestão, cabendo ao sucessor dar continuidade a empresa. Esta opção é muito comum em negócios bem-sucedidos.

✓ O sucessor passa a ter o controle, e implementa melhorias ou uma nova estratégia para o mercado: há mudança imediata no modelo de gestão e na estratégia de atuação. Cenário provável em situações desfavoráveis, que demandam alteração no modelo por uma questão de sobrevivência.

✓ Mais de um sucessor assume, e estes fazem parte do negócio como gestores: Os sucessores assumem em grupo, estando aptos para gerirem com eficiência e efetividade. A hierarquia precisa estar alinhada entre todos, com clara definição dos direitos e deveres. O desempenho de cada um precisa estar à altura da empresa, sob pena de substituição e retirada da gestão.

✓ Mais de um sucessor assume, mas os envolvidos não fazem parte da gestão: em alguns casos os sucessores não se sentem aptos ou não apresentam interesse em atuar diretamente na gestão, entretanto desejam manter o negócio na família. Em situações como esta, o grupo pode contratar gestores especializados, que conduzirão o negócio respeitando valores e diretrizes estratégicas estabelecidos pelos proprietários. Sugere-se para este contexto a criação de um conselho, de caráter consultivo, do qual os membros da família farão parte.

Para qualquer uma das alternativas o fundador e ex-dirigente deve aceitar “passar o bastão” e não mais interferir no negócio, dando liberdade para que novas ideias e decisões sejam colocadas em prática. E as regras de atuação de cada um precisam estar claras, assim como a remuneração individual e autoridade.

Para todos os casos sugere-se ainda a criação de um conselho, do qual o criador do negócio pode fazer parte junto com os demais sucessores (estando a frente ou não da empresa). Caberá ao conselho acompanhar as decisões estratégicas, com poder de intervir em casos extremos, mas preponderantemente com função consultiva. A inclusão de pessoas externas também contribui para maior neutralidade do grupo.

 

Criar um plano de transição

Estabeleça um cronograma para a implementação do plano de sucessão. Nesse momento deve-se considerar todos os fatores e planejar a sucessão sem pressa, em tempo hábil para que todos possam se ajustar às novidades.

Estes são apenas alguns pontos a serem observados em uma empresa familiar. Claro que o processo é bem mais complexo e o empenho e dedicação dos atuais e futuros gestores serão fundamentais no processo. Portanto, se você está passando ou vai passar por uma situação dessas aprofunde bem o tema com mais estudo e pesquisa. Gerir processos, negócios, marketing, vendas, finanças, inovação e pessoas não são tarefas fáceis, muito pelo contrário, a má condução de qualquer um desses elementos pode levar uma empresa à decadência completa. Mas não se preocupe, seguindo corretamente o processo e analisando bem as decisões as chances da empresa continuar prosperando são bastante altas, como acontece até hoje com as famílias Moreira Salles, Marinho, Constantino, Trajano e Gerdau presentes nas empresas Itaú/Unibanco, Rede Globo, Gol Linhas Aéreas, Magazine Luiza e Metalúrgica Gerdau.